Padre Manoel Henrique cobra efetivação de políticas de assistência ao morador de rua em Maceió; ‘Albergues serão abrigos ou depósitos humanos?’
O padre Manoel Henrique, pároco da Igreja de São Pedro, externou, em entrevista concedida, na tarde desta segunda-feira (08), à Rádio Gazeta AM, sua preocupação para com o crescente número de moradores de rua assassinados na capital alagoana. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, o arcebispo Dom Antônio Muniz também cobrou a elucidação dos crimes que ganharam repercussão nacional, enquanto que o diretor-geral da Polícia Civil, delegado Marcílio Barenco, não descartou o envolvimento de policiais – como também reforçou o promotor Alfredo Gaspar de Mendonça.
Para Mendonça, dos 31 homicídios, oito teriam características de crimes cometidos por grupo de extermínio. Ao todo, três policiais foram denunciados pelo Ministério Público. “A polícia daqui é competente e as pessoas são conscientes. Exigimos, por isso, posição mais firme da polícia”, comentou o arcebispo, na reportagem exibida na noite desse domingo, (07).
À Rádio Gazeta, o padre Manoel Henrique não conseguiu esconder sua preocupação. “Há um silêncio perigoso. Não sabemos se este silêncio seria uma parada estratégica dos criminosos, ou se seria um silêncio para se buscar alguma solução, cobrada e buscada por todos, a exemplo do Tribunal de Justiça e da própria Arquidiocese”, comentou o padre, lembrando que a paróquia situada em Ponta Verde possui um trabalho voltado aos moradores de rua.
“Precisamos dar um basta nessa história, que antes era uma realidade apenas dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Estávamos apreensivos, até que mataram dois dos nossos, que eram assistidos por nós. Então fomos às ruas para auxiliar tais moradores de rua, a maioria com sinais do uso de entorpecente em seus rostos, mas que têm direito à vida”, emendou o também professor de teologia, que questiona os motivos pelos quais tantas pessoas vivem nas ruas.
“Quem os fabricou e os colocou na rua? Ninguém iria morar na rua por opção. E também não exista nada que o proíba ao menos de morar na rua. Este povo clama por políticas públicas. Gostaria de ver as secretarias de Ação Social saindo dos gabinetes e se reunindo à noite nas praças onde moradores de rua vivem há anos, como em frente ao antigo Palácio do Governo”, refletiu padre Manoel Henrique, destacando ainda, com pesar, o fato de alguns dos moradores não possuírem sequer identificação.
“E dizer que as pessoas, muitas sem nome, estão morrendo por causa da droga não exime o Estado de culpa. Isso não justifica tais mortes. Ou seja, morre-se sem qualquer memória. A morte é sempre cruel se não for natural”, alfinetou o pároco, que também demonstrou preocupação para com os albergues que deverão abrigar tais pessoas.
“Já anunciaram albergues para abrigá-los, mas será que são albergues mesmo, ou depósitos humanos? Nestes locais, será preciso resgatar a autoestima dessas pessoas, auxiliando-os permanentemente. Infelizmente, isso não compete a nós, mas ao poder público, que recebe nossos impostos para fazê-lo”, criticou o padre.
Manoel Henrique se reportou ao fato de os crimes terem relação com uma possível ‘limpeza social’ com a proximidade de fim de ano e a chegada da alta temporada. “A nossa cidade precisa também ficar bonita humanamente falando. A última vítima, o Cotó, era tida como uma pessoa de bem e que até faria a ‘segurança’ de senhoras moradoras da localidade em que foi assassinado. Se passarmos a viver sempre desconfiando de todo mundo, então perderemos o sentido de sociedade. Infelizmente, a morte desta forma, para alguns, seria aceitável somente aos pobres”, avaliou o padre, que, por fim, criticou ainda declaração de que a Igreja estaria a defender ‘bandidos’.
“Infelizmente, a repercussão desta situação nem sempre é solidária. Afinal, não estaríamos também a defender bandido. Defendemos o direito à vida”.
Fonte: Arquidiocese de Maceió
Fonte: Arquidiocese de Maceió
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