Ultimamente e em todos os continentes, a Igreja fala em Animação Bíblica da Pastoral. Estão em jogo uma nova linguagem e uma nova compreensão. A Proposição 30 do Sínodo dos Bispos sobre a “Palavra de Deus na vida e missão”, realizado em 2008, afirma: “A ‘pastoral bíblica’ não deve ser justaposta com outras formas de pastoral, mas deve ser entendida como ‘animação bíblica de toda a pastoral’”.
Como chegamos à essa Animação Bíblica da Pastoral? Do “movimento bíblico”, antes do Concíliio Vaticano II, passamos para uma vigorosa “pastoral bíblica” com o Documento “Dei Verbum” presenteado à Igreja por esse mesmo Concílio. Mas agora compreende-se que é hora de abraçar uma consistente “animação bíblica da pastoral”. O Sínodo sobre a Palavra de Deus, o Documento de Aparecida e a última Assembléia dos Bispos assinam isso com toda a autoridade.
Tanto o “movimento bíblico” e a “pastoral bíblica” foram passos necessários, importantes e promissores na vida e missão evangelizadora da Igreja. Mas já a “Dei Verbum”, número 21, tinha um espírito mais amplo quando afirma: “toda a pregação da Igreja, como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura”.
A Bíblia, enquanto contém a Palavra de Deus - viva e eficaz - nutre a vocação, formação e missão de todo o discípulo missionário, logo de toda a sua ação evangelizadora. Trata-se de compreender que a Palavra de Deus é a alma de toda a pastoral: dimensão bíblica de toda a pastoral - a “Animação Bíblica da Pastoral”.
Na Igreja o discípulo missionário encontra tudo aquilo que alimenta sua vinculação íntima com Jesus Cristo. Ela oferece primeiramente a proclamação da Palavra de Deus e a possibilidade de encontrar Jesus Cristo na Sagrada Escritura, lida na Igreja e no contexto da vida. É indispensável “propor aos fiéis a Palavra de Deus como dom do Pai para o encontro com Jesus Cristo vivo, caminho de ‘autêntica conversão e de renovada comunhão e solidariedade’” (Ecclesia in América 12, cf. DAp 248). O caminho de encontro com Jesus Cristo mediante a Sagrada Escritura exige, como ensina Bento XVI, “o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus” (Discurso inaugural à V Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, número 3). O Documento de Aparecida fala de encontros com o Senhor: Nicodemos, Samaritana, Cego de Nascimento, Zaqueu.
Assim a Sagrada Escritura se torna fonte e cume de conhecimento, de comunhão e de evangelização da Palavra enquanto mediação insubstituível de encontro com “o Verbo que se fez carne”- Jesus Cristo vivo para continuar sua obra do Reino de Deus. Daí a conclusão: a Palavra de Deus, que a Sagrada Escritura oferece, “deve ser inspiradora de todas as fases da ação evangelizadora nas comunidades, nas paróquias e nas dioceses: a reflexão e o discernimento, a tomada de decisões e o planejamento, a execução e a avaliação “cf. DAp 371). Dito com uma metáfora: a Palavra de Deus não pode ser um ramo a mais do conjunto da árvore que é a Igreja, mas a seiva que corre por seu tronco e nutre todos os ramos. Os Bispos em Aparecida, por sua vez, aludem à metáfora do farol para falar da Sagrada Escritura que ilumina e guia o caminho e a atuação da Igreja de Cristo (cf. DAp 180). Onde há evangelização aí deve estar a seiva e a luz da Palavra de Deus que, com sua multiforme presença, anima o anúncio e a realização do Reino de Deus. A Palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura, deve suscitar formar e acompanhar a vocação e a missão do discípulo missionário de Jesus Cristo e dar conteúdo às ações organizadas da Igreja em sua missão de ir e fazer “discípulos a todos os povos” (Mt 28,19). Desta forma, além de ser “a alma da teologia” (DV 24), a Palavra de Deus está chamada a converter-se em “alma da ação evangelizadora da Igreja” (DP 372; DAp 248).
Dom Jacinto Bergmann
bispo de Pelotas e
membro da Comissão Bíblico-Catéquetica da CNBB
membro da Comissão Bíblico-Catéquetica da CNBB
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